Por Thyago Macedo
O jornalismo no Brasil vive uma das suas mais profundas crises. Desacreditados por boa parte da população, atrapalhados pela onda de fake news que inundou o país e embalados por interesses políticos e econômicos, muitos veículos de comunicação são colocados contra a parede e têm a credibilidade contestada.
A notícia do Jornal Nacional sobre a possível ligação do presidente Bolsonaro com os envolvidos na morte de Marielle é mais um caso que coloca em xeque o jornalismo. Não pela produção da matéria em si, que do ponto de visto jornalístico seguiu o mesmo padrão aplicado pela Globo durante toda a Lava Jato, por exemplo, mas pelas consequências políticas que ela representa.
A Globo, assim com centenas de veículos espalhados pelo Brasil, várias vezes explorou incansavelmente casos de corrupção baseada unicamente em depoimentos, delações premiadas ou declarações de envolvidos em crimes, muitos deles recheados de informações que ainda seriam confirmadas ou desmentidas no decorrer das investigações.
O mesmo aconteceu no caso Bolsonaro, o qual o Ministério Público já confirmou que a versão do porteiro do condomínio não condiz com a verdade.
Noticiar o depoimento de uma testemunha é tão comum no jornalismo quanto informar a previsão do tempo. Sinceramente, não entendo o espanto de colegas jornalistas com esse tipo de abordagem. Centenas de milhares de matérias jornalísticas foram produzidas baseadas em relatos de testemunhas e investigados à polícia ou ao Ministério Público, volto a citar a Lava Jato como exemplo.
Acontece que é aí onde mora o problema. Ao longo dos últimos anos, o jornalismo brasileiro mergulhou de cabeça no jogo de disse me disse. Trabalhar versões e depoimentos ainda perecíveis, carentes de comprovações, dá grande margem para manipulação de fatos, e abordagens tendenciosas.
E nisso a Globo não é santa, assim como a Record, a Folha de São Paulo, a Veja e tantos outros veículos também não são. Hoje são os bolsonaristas que esbravejam ofensas contra a mídia. Ontem eram os lulistas que condenavam o envolvimento da imprensa no chamado golpe.
A imparcialidade nunca existirá por completo nos veículos de comunicação. Mas quando se fragiliza a perseguição a esse elemento básico, por qualquer interesse que seja, abre-se brecha para questionamentos, descrédito, e joga-se na vala comum profissionais que ainda tentam produzir conteúdo de qualidade.
Hoje, jornalistas sérios pisam em ovos na hora de escolher suas palavras, suas fontes e abordagem das notícias que produzem. Um simples título ou chamada mais forte pode render ao profissional um rótulo de simpatizante da ideologia A ou B. Infelizmente, esse é o preço que o verdadeiro jornalismo paga.
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